Sexta-feira, 1 de Dezembro de 2006

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фото | Роман098 (Sergey Ryzhkov) | Из серии \"Акварели\" - Андриатика....

 

 


Segredo

Esta noite morri muitas vezes, à espera
de um sonho que viesse de repente
e às escuras dançasse com a minha alma
enquanto fosses tu a conduzir
o seu ritmo assombrado nas trevas do corpo,
toda a espiral das horas que se erguessem
no poço dos sentidos. Quem és tu,
promessa imaginária que me ensina
a decifrar as intenções do vento,
a música da chuva nas janelas
sob o frio de fevereiro? O amor
ofereceu-me o teu rosto absoluto,
projectou os teus olhos no meu céu
e segreda-me agora uma palavra:
o teu nome - essa última fala da última
estrela quase a morrer
pouco a pouco embebida no meu próprio sangue
e o meu sangue à procura do teu coração.

(Fernando Pinto do Amaral)


publicado por Lumife às 20:07

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Domingo, 29 de Outubro de 2006

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AH! OS RELÓGIOS

Amigos, não consultem os relógios
quando um dia eu me for de vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas
que até parecem mais uns necrológios...

Porque o tempo é uma invenção da morte:
não o conhece a vida - a verdadeira -
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.

Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.

E os Anjos entreolham-se espantados
quando alguém - ao voltar a si da vida -
acaso lhes indaga que horas são...

Mario Quintana - A Cor do Invisível

publicado por Lumife às 23:35

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Quarta-feira, 29 de Março de 2006

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Lua Adversa

TENHO FASES, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...

*

 

(Cecília Meireles)

publicado por Lumife às 02:08

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Terça-feira, 14 de Março de 2006

Das utopias

 

Das utopias


Se as coisas são inatingíveis... ora!


não é motivo para não quere-las...


Que tristes os caminhos, se não fora


a magica presença das estrelas!

(Mário Quintana)












publicado por Lumife às 12:28

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Domingo, 18 de Dezembro de 2005

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fnatal.jpg
publicado por Lumife às 21:34

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Sábado, 8 de Outubro de 2005

Lisboa

Lissabon.jpgLissabon-Mário Elóy Pereira-(1900-1951)-Sec.XX-Ano:1930-31-Tipo:Óleo sobre tela

por tràs dos muros da cidade
no seu coração profundo de alicerces
de argilas e de sísmicos arroios - cresce uma voz
que sobe e fende a brandura das casas


da escrita dos enumeráveis povos quase
nada resta - deitas-te exausto na lâmina da lua
sem saberes que o tejo te corrói e te suprime
de todas as idades da europa


mais além - para os lados do corpo - permanece
a tosse dos cacilheiros os olhos revirados
dos mendigos - o tecto onde um navio
nos separa de um vácuo alimentado a soro


plátanos brancos recortam-se luminescentes no olhar
de quem nos olha contra um céu desesperado - jardim
de iris açucenas palmeiras cobertas de rocio e
a ponte que nos leva aos campos do sul - lisboa


lugar derradeiro do riso
que já não te pode salvar do cemitério dos prazeres


e morres
carregado de tristezas e de mistérios - morres
algures
sentado numa praceta de bairro - o olhar fixo
no inferno marítimo das aves


Al Berto


















publicado por Lumife às 18:33

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Domingo, 21 de Agosto de 2005

A um Secreto Leitor



No silêncio da noite é que eu te falo



Como através dum ralo



De confissão.



Auscultadores impessoais e atentos,



Os teus ouvidos são



Ermos abertos para os meus tormentos.






Sem saber o teu nome e sem te ver



- Juiz que ninguém pode corromper -,



Murmuro-te os meus versos, os pecados,



Penitente e seguro



De que serás um búzio do futuro,



Se os poemas me forem perdoados.




(Miguel Torga)

publicado por Lumife às 19:14

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Quarta-feira, 27 de Julho de 2005

INTIMIDADE - Antero de Quental

Ricardo Sobral-Olhares.jpgFoto de Ricardo Sobral -(Olhares)


Quando, sorrindo, vais passando, e toda

Essa gente te mira cobiçosa,

Es bela - e se te não comparo a rosa,

E que a rosa, bem vês, passou de moda...


Anda-me as vezes a cabeça a roda,

Atras de ti também, flor caprichosa!
Nem pode haver, na multidão ruidosa,

Coisa mais linda, mais absurda e doida.


Mas é na intimidade e no segredo,

Quando tu coras e sorris a medo,

Que me apraz ver-te e que te adoro, flor!


E não te quero nunca tanto (ouve isto)

Como quando por ti, por mim, por Cristo, Juras
- mentindo - que me tens amor...













publicado por Lumife às 00:56

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Sexta-feira, 22 de Julho de 2005

Poema de Pedro Homem de Melo

f180181.jpgElsa Mota Gomes (1000 Images)

Noite. Fundura. A treva

E mais doce talvez...

E uma ânsia de nudez

Sacode os filhos de Eva.






Não a nudez apenas

Dos corpos sofredores

Mas a das almas plenas

De indecisos amores.






A voz do sangue grita

E a das almas responde!

Labareda infinita

Que nas sombras se esconde.






Mas quase sem ruído,


Na carne ao abandono

O hálito do sono

Desce como um vestido...

















publicado por Lumife às 17:10

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Quarta-feira, 13 de Julho de 2005

Este Livro - José Luis Peixoto

36-az cel-L1.gif


este livro. passa um dedo pela página, sente o papel
como se sentisses a pele do meu corpo, o meu rosto.

este livro tem palavras. esquece as palavras por
momentos. o que temos para dizer não pode ser dito.

sente o peso deste livro. o peso da minha mão sobre
a tua. damos as mãos quando seguras este livro.

não me perguntes quem sou. não me perguntes nada.
eu não sei responder a todas as perguntas do mundo.

pousa os lábios sobre a página. pousa os lábios sobre
o papel. devagar, muito devagar. vamos beijar-nos.






publicado por Lumife às 23:11

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