Quarta-feira, 22 de Dezembro de 2004

Boas Festas

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publicado por Lumife às 20:45

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Quinta-feira, 16 de Dezembro de 2004

Pensar em Deus - (Alberto Caeiro)

Gaetano Previati.jpg


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Pensar em Deus é desobedecer a Deus,

Porque Deus quis que o não conhecêssemos,

Por isso se nos não mostrou...


Sejamos simples e calmos,

Como os regatos e as árvores,

E Deus amar-nos-á fazendo de nós

Belos como as árvores e os regatos,

E dar-nos-á verdor na sua primavera,

E um rio aonde ir ter quando acabemos!...



publicado por Lumife às 19:20

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Guardador de Rebanhos - (Alberto Caeiro)

PAISAGEM10.jpg


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Sou um guardador de rebanhos

O rebanho é os meus pensamentos

E os meus pensamentos são todos sensações.

Penso com os olhos e com os ouvidos

E com as mãos e os pés

E com o nariz e a boca.


Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la

E comer um fruto é saber-lhe o sentido.


.

Por isso quando num dia de calor

Me sinto triste de gozá-lo tanto.

E me deito ao comprido na erva,

E fecho os olhos quentes,

Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,

Sei a verdade e sou feliz.



publicado por Lumife às 19:16

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Quem me dera ... - (Alberto Caeiro )

carbois.jpg


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Quem me dera que a minha vida fosse um carro de bois

Que vem a chiar, manhãzinha cedo, pela estrada,

E que para de onde veio volta depois

Quase à noitinha pela mesma estrada.

.


Eu não tinha que ter esperanças - tinha só que ter rodas...

A minha velhice não tinha rugas nem cabelo branco...

Quando eu já não servia, tiravam-me as rodas

E eu ficava virado e partido no fundo de um barranco.



publicado por Lumife às 19:10

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Quarta-feira, 15 de Dezembro de 2004

Autopsicografia

pessoa.gif


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O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.


.

E os que lêem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.


.

E assim nas calhas de roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda

Que se chama coração.



publicado por Lumife às 00:05

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Terça-feira, 14 de Dezembro de 2004

Sonho - (Fernando Pessoa)

sonho 1.jpg


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Sonho. Não sei quem sou neste momento.

Durmo sentindo-me. Na hora calma

Meu pensamento esquece o pensamento,


.

Minha alma não tem alma.


Se existo é um erro eu o saber. Se acordo

Parece que erro. Sinto que não sei.

Nada quero nem tenho nem recordo.


.

Não tenho ser nem lei.


Lapso da consciência entre ilusões,

Fantasmas me limitam e me contêm.

Dorme insciente de alheios corações,

Coração de ninguém.

publicado por Lumife às 23:59

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Padrão - (Fernando Pessoa)

images.jpg


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O esforço é grande e o homem é pequeno.

Eu, Diogo Cão, navegador, deixei

Este padrão ao pé do areal moreno

E para diante naveguei.


.

A alma é divina e a obra é imperfeita.

Este padrão sinala ao vento e aos céus

Que, da obra ousada, é minha a parte feita:

O porfazer é só com Deus.


.

E ao imenso e possível oceano

Ensinam estas Quinas, que aqui vês,

Que o mar com fim será grego ou romano:

O mar sem fim é português.


.

E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma

E faz a febre em mim de navegar

Só encontrará de Deus na eterna calma

O porto sempre por achar.




publicado por Lumife às 20:43

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O Infante - (Fernando Pessoa)

inf.jpg(José Martins Barata)

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Deus quere, o homem sonha, a obra nasce.

Deus quis que a terra fosse toda uma,

Que o mar unisse, já não separasse.

Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,


.

E a orla branca foi de ilha em continente,

Clareou, correndo, até ao fim do mundo,

E viu-se a terra inteira, de repente,

Surgir, redonda, do azul profundo.


.

Quem te sagrou criou-te português.

Do mar e nós em ti nos deu sinal.

Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.

Senhor, falta cumprir-se Portugal!



publicado por Lumife às 20:33

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Quinta-feira, 9 de Dezembro de 2004

Sophia de Mello Breyner Andresen

Arpad-Sofia.jpgPor Arpad Szenes


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Cronologia

1919 – Nasce a 6 de Novembro no Porto, onde passou a infância. Aos 3 anos, tem o primeiro contacto com a poesia, quando uma criada lhe recita A Nau Catrineta, que aprenderia de cor. Mesmo antes de aprender a ler, o avô ensinou-a a recitar Camões e Antero.


1926 – Frequenta o Colégio do Sagrado Coração de Maria, no Porto, até aos 17 anos. Primeiro semi-interna, depois externa. Tem professores marcantes, como a D. Carolina (de Português). E, apesar da pouca estima por disciplinas como Matemática e Química, nunca chumbou. Aos doze anos escreve os primeiros poemas. Entre os 16 e os 23 tem uma fase excepcionalmente fértil na sua produção poética.


1936 – Estuda Filologia Clássica, na Faculdade de Letras de Lisboa, mas não leva a licenciatura até ao fim. Três anos depois, regressa ao Porto, onde vive até casar com Francisco Sousa Tavares, altura em que se muda definitivamente para Lisboa. Tem cinco filhos.


1944 – Publica o primeiro livro, Poesia, uma edição de autor de 300 exemplares, paga pelo pai, que sairia em Coimbra por diligência de um amigo: Fernando Vale. Em 1975 seria reeditado pela Ática. Este livro é uma escolha, que integra alguns poemas escritos com 14 anos. É o início de um fulgurante percurso poético e não só. Publicaria também ficção, literatura para crianças e traduziu, nomeadamente, Dante e Shakespeare.


1947 – O Dia do Mar, Ática


1950 – Coral, Livraria Simões Lopes


1954 – No Tempo Dividido, Guimarães


1956 – O Rapaz de Bronze (literatura infantil), Minotauro


1958 – Mar Novo, Guimarães; A Menina do Mar (infantil), Figueirinhas; A Fada Oriana (infantil), Figueirinhas. Escreve um ensaio sobre Cecília Meireles na «Cidade Nova»


1960 – Noite de Natal (infantil), Ática. Publica o ensaio Poesia e Realidade, na
«Colóquio 8»


1961 – O Cristo Cigano, Minotauro


1962 – Livro Sexto, Salamandra, distinguido com o Grande Prémio de Poesia da Sociedade Portuguesa de Escritores, em 1964; Contos Exemplares (ficção), Figueirinhas


1964 – O Cavaleiro da Dinamarca (infantil), Figueirinhas


1967 – Geografia, Ática


1968 – A Floresta (infantil), Figueirinhas; Antologia, Portugália, cuja 5ª edição (1985 – Figueirinhas) é prefaciada por Eduardo Lourenço


1970 – Grades, D. Quixote


1972 – Dual, Moraes


1975 – Publica o ensaio O Nu na Antiguidade Clássica, integrado em O Nu e a Arte, uma edição dos Estúdios Cor. Deputada pelo Partido Socialista à Assembleia Constituinte. A sua actividade político-partidária, não foi longa, mas ao longo da sua vida sempre foi uma lutadora empenhada pelas causas da liberdade e justiça. Antes do 25 de Abril, pertence mesmo à Comissão Nacional de Apoio aos Presos Políticos




1977 – O Nome das Coisas, Moraes, distinguido com o Prémio Teixeira de Pascoaes


1983 – Navegações (IN-CM), recebe o Prémio da Crítica do Centro Português da Associação de Críticos Literários


1984 – Histórias da Terra e do Mar (ficção), Salamandra


1985 – Árvore (infantil), Figueirinhas


1989 – Ilhas, Texto, distinguido com os Prémios D. Dinis, da Fundação Casa de Mateus e Inasset-INAPA (1990)


1990 – Reúne toda a sua obra em três Volumes, Obra Poética, com a chancela da Editorial Caminho; é distinguida com o Grande Prémio de Poesia Pen Clube

1991 - «Recordo-me de descobrir que num poema era preciso que cada palavra fosse necessária, as palavras não podem ser decorativas, não podiam servir só para ganhar tempo até ao fim do decassílabo, as palavras tinham que estar ali porque eram absolutamente indispensáveis. Isso foi uma descoberta» (JL 468, de 25/6/91)


1992 – Grande Prémio Calouste Gulbenkian de Literatura para Crianças


1994 – Musa, Caminho. Recebe Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores. Publica Signo, um livro/disco com poemas lidos por Luís Miguel Sintra, uma edição Presença/Casa Fernando Pessoa


1995 – Placa de Honra do Prémio Petrarca, atribuída em Itália


1996 – Homenageada do Carrefour des Littératures, na IV Primavera Portuguesa de Bordéus e da Aquitânia

1997 - «A poesia é das raras actividades humanas que, no tempo actual, tentam salvar uma certa espiritualidade. A poesia não é uma espécie de religião, mas não há poeta, crente ou descrente, que não escreva para a salvação da sua alma – quer a essa alma se chame amor, liberdade, dignidade ou beleza» (JL 709, de 17/12/97)


1998 – O Búzio de Cós, Caminho, distinguido com o Prémio da Fundação Luís
Míguel Nava


1999 – Prémio Camões


Sophia de Mello Breyner Andresen morreu a 2 de Julho de 2004


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(www.instituto-camoes.pt)





publicado por Lumife às 16:30

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As palavras de Sophia M B Andresen

amadeu_violino.jpgDe Amadeu Sousa Cardoso


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"A coisa mais antiga de que me lembro é dum quarto em frente do mar dentro do qual estava, poisada em cima de uma mesa, uma maçã enorme e vermelha. Do brilho do mar e do vermelho da maçã erguia-se uma felicidade irrecusável, nua e inteira. Não era nada de fantástico, não era nada de imaginário: era a própria presença do real que eu descobria. Mais tarde a obra de outros artistas veio confirmar a objectividade do meu próprio olhar. Em Homero reconheci essa felicidade nua e inteira, esse esplendor da presença das coisas. E também a reconheci intensa, atenta e acesa na pintura de Amadeo de Souza-Cardoso. Dizer que a obra de arte faz parte da cultura é uma coisa um pouco escolar e artificial. A obra de arte faz parte do real e é destino, realização, salvação e vida.


Sempre a poesia foi para mim uma perseguição do real. Um poema foi sempre um círculo traçado à roda duma coisa, um círculo onde o pássaro do real fica preso. E se a minha poesia, tendo partido do ar, do amor e da luz, evoluiu, evoluiu sempre dentro dessa busca atenta. Quem procura uma relação justa com a pedra, com a árvore, com o rio, é necessariamente levado, pelo espírito de verdade que o anima, a procurar uma relação justa com o homem. Aquele que vê o espantoso esplendor do mundo é logicamente levado a ver o espantoso sofrimento do mundo. Aquele que vê o fenómeno quer ver todo o fenómeno. É apenas uma questão de atenção, de sequência e de rigor...".

Sophia de Mello Breyner

publicado por Lumife às 15:00

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